segunda-feira, 18 de junho de 2012

Dormir juntos na mesma hora



 

Quando sua companhia se levanta, rola para cheirar o travesseiro dela?

Você é apaixonado por dividir, desculpe informar. É constrangedor 
confessar a dependência, mas não resta alternativa. Nunca será mais
 sozinho. É uma simbiose amorosa por dentro das lembranças, dos 
hábitos, que surge no modo de repartir uma tangerina e pôr açúcar
 no café. Uma necessidade de primeiro servir para depois saciar
 as próprias ansiedades.

Entregou os pontos ao abandonar seu horário para dormir. Renunciou 
ao livre-arbítrio no momento de atender ao chamado sedutor de sua
 esposa.

– É tarde, te espero?

Aquela desistência foi fatal. Pode ter classificado o gesto como uma
 exceção, só que gostou de verdade, gostou imensamente de 
adormecer com sua mulher. Ambos apagando o abajur em igual 
instante, depois de ler, de rir, de brincar. Sincronizaram o relógio
dos batimentos cardíacos e nunca houve mais atraso de beijo.

Amor eterno é quando um não consegue mais dormir sem o outro.

 Simples assim. Deseja descansar, e convoca sua mulher na sala.

– Vem, tá na hora!

E ela, que estava envolvida com um filme ou um programa de tevê,
nem reclama, nem diz mais um minutinho, ajeita os ombros no cobertor
do seu abraço e segue junto.

Lado a lado no espelho do banheiro, escovam os dentes, ajeitam o
rosto, colocam roupas folgadas. Reina uma sincronia dos movimentos,
uma disciplina na admiração. Alguns até confundem com tédio,
porém é intimidade: não precisar falar para se entender. Se silêncio
com ódio é submissão, silêncio com ternura é concordância.

Escoteiros do casamento, entram no mar branco dos lençóis cada um
do seu lado: ela pela margem esquerda, ele pela margem direita. 
E centram os corpos para fazer conchinhas encostando as cabeças.
Um casal apaixonado ocupa menos do que uma cama de solteiro: 
terminam agarrados, sobrepostos.

Você se dá conta de que não deita mais sozinho há décadas. 
É uma compulsão olfativa. Está no escritório trabalhando de 
madrugada, e ela abre a porta para convidá-lo:

– Vem, tá na hora!

E não estranha a ordem, obedece, sequer medita sobre o motivo da 
adesão. Vai, sem preguiça alguma, sem aviso de bocejo, ainda que
não esteja com vontade, ainda que tenha uma porção de tarefas e
problemas a resolver. Larga as urgências pela metade e se 
prontifica a acompanhá-la.

Casal quando se ama dorme na mesma hora. E não suportará morrer 
longe. O sonho é também morrer na mesma hora. Com as respirações 
próximas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário